20170120: O Vigésimo Nono Dia na Europa (Fotos e Comentários)

Hoje, sexta-feira, faz vinte e nove dias que estamos na Europa. 9h da manhã. Não estou com ânimo para fazer muita coisa. As andanças dos últimos dias estão cobrando seu preço. Hoje pretendo ficar meio de molho, arrumando minha contabilidade e começando a reorganizar minha mala. De todos os do nosso grupo, eu fui quem menos comprou: cinco livros (três sobre história da Bélgica, um sobre história de Aachen, e um sobre a históris do cristianismo primitivo), dos quais alguns pequenos, um disco rígido de 2,5” (4TB), bastante pequeno, e um power bank, do tamanho de um telefone celular. Não comprei uma peça de roupa. As meninas compraram muita coisa e a Paloma, alguma.

o O o

Depois de todo mundo acordar, mais ou menos na marra, no caso das meninas, tomamos um café e a Paloma resolveu visitar o subsolo da cidade, onde há excavações arqueológicas. Quem nos revebelu o fato foi a Daisy Grisolia, ontem. Como não estava muito afim de sair feito minhoca pelo subsolo da cidade, resolvi andar, voltando até a área dos museus e da sede da Comissão Europeia (que fica perto). Acabei andando das 10h55 até às 12h35, só parando para tirar uma foto ou outra.

Cheguei de volta ao hotel e as femininas saíram. Como a moça da limpeza chegou para limpar, desci para o lobby, onde estou, tomando um chocolate quente…

Tirei algumas fotos lindas. A mais linda de todas foi de uma fonte / chafariz, na frente do portal que separa o AutoWorld do Musée de l’Armée et de l’Histoire Militaire. A água sai, sobe, e cai, e vai congelando, formando um montinho de gelo que forma um círculo.

Vide três dessas fotos colocadas no Facebook hoje, em:

Coloquei também no Facebook, hoje, algumas fotos adicionais que ilustram meu post de ontem. Elas figuram como comentário a esse meu post. Vide as fotos no URL abaixo e nos comentários à foto principal (que não foi tirada por mim, mas foi copiada do site do Museu, durante a primavera ou o verão):

Tirei também agora cedo algumas fotos de prédios da Comissão Européia e de seu Conselho, aqui pertinho do hotel onde estou hospedado. Eles mostram para onde está indo o dinheiro dos europeus: para sustentar burocratas que acham que vão salvar o mundo com medidas internacionalizantes, de caráter intervencionista no destino dos povos europeus — que, tenho certeza, assim que a saída da Grã-Bretanha começar a mostrar fruitos, vão começar a abandonar a União Européia em uma correria só. Eis algumas das fotos:

Há prédios gigantescos e luxuosos para tudo o que é coisa: supervisão da caça e da pesca; controle de portos; condições climáticas; direitos sociais; inclusão social e solidariedade; etc. You name it, they have a division, a building, and about a thousand fonctionnaires. Só saem ganhando os burocratas e a cidade de Bruxelas – e, imagino, em menor grau, a de Luxembourg e a de Strasbourg.

o O o

Por enquanto, é só. Pretendo voltar à carga.

Em Bruxelas, 20 de Janeiro de 2017.

20170119: O Vigésimo Oitavo Dia na Europa (Atividades em Bruxelas)

O vigésimo oitavo dia de nossa permanência na Europa se completa hoje, quinta-feira, dia 19/01/2017. Quatro semanas completas. Chegamos aqui na manhã da antevéspera do Natal, dia 23/12/2016.

O dia foi tranquilo e agradável. A temperatura continuou cortantemente fria, mas fomos aquinhoados com um dia limpo, claro e ensolarado.

Um pouco antes do meio dia a Paloma e eu saímos para andar um pouco. Fomos na direção oposta à que normalmente tomamos quando saímos de casa (que é na direção do centro velho da cidade). Desta vez fomos na direção da Parque do Cinquentenário da Independência de Bruxelas, independência essa que teve lugar em 1830. Logo, o parque comemora o ano de 1880. É um lind parque, enorme. O fato de a grama e as árvores estarem secas não diminui significativamente a sua imponência, embora fique imaginando quão mais belo será no auge da primavera, com as folhas das árvores ostentando aquele magnífico “baby green” e as flores exibindo suas melhores cores — ou no outono, com as folhas ficando amarelas, vermelhas, marrons, roxeadas…

Dentro do parque há um conjunto de prédios magníficos, onde funcionam três enormes museus.

Em primeiro lugar, está The Cinquantenaire Museum (Le Musée du Cinquantenaire), que capitaneia um conjunto de Cinco Museus de Artes e História disponíveis na cidade. Este, especificamente, um dos maiores museus de Bruxelas, ilustra o tema do conjunto: a arte, em toda a sua riqueza, vista de uma perspectiva história.

musee-du-cinquantenaire-bruxelles

Além desse, que comemora, como o parque, o cinquentenário da Independência belga, existem, nessa categoria (Museus de Artes e História) mais os seguintes museus, dedicados a sub-temas mais específicos dentro do tema maior:

• The Horta-Lambeaux Pavilion (Le Pavillon Horta-Lambeaux)

• The Halle Gate (La Porte de Hal)

• The The Museums of the Far East  (Les Musées d’Extrême-Orient)

• The Musical Instrument Museum (Le Musée des Instruments de Musique)

Atrás do Museu do Cinquentenário há um complexo de prédios, voltados para o outro lado da cidade, que podem hospedar museus, exibições, etc. e que, de certo modo, são mais magníficos ainda (e astronomicamente grandes). Eles são unidos por um enorme portal.

la-porte-des-musses-bruxelles

O conjunto do Portal com os dois espaços laterais forma o seguinte desenho:

la-porte-avec-les-deus-musses-bruxelles-dessin

Hoje estão hospedando, começando com o da esquerda, para quem olha na direção das fotos:

• The AutoWorld Museum (AutoWorld)

• The Museum of the Army and Military History (Le Musée Royal de l’Armée et d’Histoire Militaire)

autoworld-bruxelles

musee-de-larmee-bruxelles

Este último foi o único que a gente conseguiu visitar hoje – e é fantástico. Tem tecnologia militar (armas de todo tipo, canhões, material de transporte, tanques, aviões, navios, etc.) e tem o lado “soft” (uniformes, agasalhos, sapatos — inclusive para o inverno, etc.). Gostaríamos de ter tido mais tempo lá.

À tarde fomos os quatro visitar nossa amiga Daisy Grisólia, que está aqui, há mais de um mês, na casa do filho dela. Ela nos recebeu regiamente – no estilo grandioso dessa régia cidade… A Paloma tirou um selfie que está disponibilizado no Facebook (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10211568357422581).

Chegando ao hotel, por volta das 19h30, tivemos a má notícia da morte do Teori Zavascki. Só se tornaria uma notícia melhor se o Presidente Temer indicasse o Juiz Sérgio Moro para o lugar dele. Politicamente, seria uma grande sacada.

Em Bruxelas, 19 de Janeiro de 2017.

20170117: O Vigésimo Sexto Dia na Europa (Promenading in the City)

Ontem, dia 16, ficamos no hotel, a Paloma e eu, descansando dos dias em Paris. As meninas saíram um pouco à tarde / noite para comer fora e passear um pouco.

Hoje, dia 17 de Janeiro, vamos passear um pouco a pé pela cidade. Andar por aí, entrar em lojas e shoppings sem compromisso. A Priscilla decidiu ficar no quarto. Ela, como eu, de vez em quando precisa de algum tempo de solitude (aloneness) – que de modo algum se confunde com solidão (loneliness). Um blog na Internet diferencia as duas coisas:

“Solidão é uma falta, uma ausência, um sentimento de incompletude, a sensação de que você carece da presença de alguém. Solitude é presença, plenitude, um sentimento de completude, a certeza de que, pelo menos em alguns momentos, você se basta a si próprio.” [Vide o artigo Loneliness vs Aloneness no Blog Discover Meditation: http://discovermeditation.com/3529/blog/practical-inspiration/loneliness-v-aloneness-whats-the-difference/.%5D

o O o

Escrevo, daqui para frente, depois de ter saído…

Acabamos indo a uma região só da cidade, onde há uma galeria, com uma Loja Fnac, e, perto dela, na H&M e uma loja de brinquedos, que vende LEGO, quebra-cabeças, etc. Eu fiquei só na Fnac por cerca de duas horas e meia e a Paloma e a Bianca visitaram as duas lojas e compraram puzzles e roupas.

Eu “took my time”, e, com calma, primeiro, olhei e, em alguns casos, testei computadores, tablets, telefones, etc.. Depois fui checar uma área favorita: de discos rígidos, pen drives e cartões de memória. Mas não comprei nada nessas seções, apesar das tentações.

Em seguida fui para a área de livros, ficando o tempo todo na área de história. Peguei dois livros para ler, achei uma poltrona, e fiquei lendo. Ao final, comprei um deles e fiquei tentado a comprar o outro…

O que comprei foi La Grande Histoire de la Belgique, de Patrick Weber (2013). Conta a história da Bélgica, ou do território que veio mais recentemente ser a Bélgica, desde o período pré-romano. Leitura fácil, para o leitor não especializado.

O que não comprei foi Une Histoire Populaire de l’Humanité: De l’Âge de Pierre au Nouveau Millenaire, de Chris Harman (2011), traduzido para o Francês por Jean-Marie Guerlin. O original em inglês, que a loja não tinha, é A People’s History of the World: From the Stone Age to the New Millenium. O autor é um esquerdista, operando com categorias marxistas, mas escreve bem. O livro foi escrito para ser um “companion” a The People’s History of the United States, um clássico marxista escrito por Howard Zinn há muito tempo (comprei-o na década de 70 nos Estados Unidos, mas a versão ora à venda é atualizada até o ano 2000).

Depois de novamente nos unirmos, fomos almoçar num restaurante alternativo que a Bianca descobriu ontem. Apertadinho, as comidas com uns nomes esquisitos, suco servido num copo que parece uma jarra de maionese (creio que é mesmo). Tomei uma sopa de cogumelos com queijo Brie. Estava boa. A cerveja, marca Bio, nem tanto. Depois  comprei uma garrafa de rum num boteco (bem mais barato do que no Carrefour), para esquentar meus dias, e voltamos para casa.

Passei o resto do dia, até agora (são 23h13 aqui) lendo o livro sobre a História da Bélgica. Acho uma história extremamente interessante. A Bélgica teve, historicamente, três grandes inimigos, já tendo “pertencido” a cada um deles (i.e., feito parte do território de cada um deles): a Holanda, a França e a Alemanha. Curiosamente, seu território é dividido, hoje, em duas grandes regiões (a Região “Flamande”, ao Norte, que é monolíngue e Holandês, e a Região “Wallonne”, ao Sul, que também é monolíngue e fala Francês – Francês mesmo, não dialeto), e duas regiões menores (Bruxelles, que é uma região independente equivalente ao Distrito Federal do país, que, embora geograficamente localizado dentro da Região Flamande, é oficialmente bilíngue, onde as línguas oficiais são o Francês e o Holandês, e três cantões pequeninos, que fazem divisa com a Alemanha, que foram anexados à Alemanha durante a Segunda Guerra, porque já falavam alemão, e continuam a falar alemão até hoje, como língua oficial, mesmo depois de terem sido devolvidos à Bélgica, apesar de ficarem geograficamente dentro da Região Wallonne). Acho fascinante um país em que são faladas três línguas – além do Inglês, que, especialmente na região Wallonne, é falado de forma generalizada nos hotéis, nos restaurantes, nas lojas.

A Bélgica só se tornou independente em 1830 – e, mesmo assim, ainda foi ocupada pela Alemanha nas duas guerras mundiais. (Não deve ser fácil ser um vizinho pequeno da Alemanha; na verdade, nem um vizinho grande, que o digam a Polônia e a França). E tem enfrentado sérios problemas de convivência entre as duas principais regiões. Já narrei aqui que, em Ghent, fui pedir uma informação numa loja e falei em Francês – a moça disse que não falava Francês; falei em Inglês, e respondeu sem hesitar, num Inglês sotaqueado mas bastante bom.

Além disso a Bélgica não tem convivido muito bem com sua monarquia. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, durante a ocupação da Bélgica pela Alemanha, o Primeiro Ministro e seu “cabinet” fugiram, primeiro para Bordeaux, na França, e, depois, quando a França também foi ocupada, para Londres, na Inglaterra, lá exercendo um governo no exílio. O rei, que não convivia bem com seus ministros, se recusou a fugir, ficou na Bélgica, foi preso pelos alemães e levado para a Alemanha. Quando a Bélgica foi liberada pelos aliados, a guerra ainda continuava em outras frentes. O Primeiro Ministro e seu “cabinet” voltou e começou a governar – sem o rei, que continuava preso. Quando a Alemanha finalmente caiu, o governo não queria que ele voltasse. Houve uma negociação complicadíssima, que resultou na abdicação do rei (por proposta dele próprio) e na coroação de seu filho, o rei Balduíno. Vira e mexe “la question royale” é levantada de novo.

Pensando sobre essas coisas me surgiu o paralelo com a Suíça, país em que há várias etnias e várias línguas são faladas: Alemão, Francês, Italiano e Romansch. O país é uma “confederação” (o nome oficial é “Confederatio Helvetica”, razão pela qual o código internacional da Suíça é CH (que me faz lembrar de CHAVES…). Lá, embora as diferentes línguas sejam faladas em diferentes cantões, todo mundo, sabendo, fala a língua do outro cantão, sem implicância. E todo mundo fala Inglês. O Romansch é falado só por 0,5% da população. Os caixas eletrônicos dos bancos lhe dão a opção de interagir com o sistema em Inglês, Francês, Alemão e Italiano, e deixam você retirar Francos Suíços (o dinheiro da Suíça, que, não sendo parte da União Europeia, não usa o Euro), Euros, Dólares Americanos, Libras Esterlinas, Yenes – independente da moeda em que sua conta esteja, por sua opção, classificada. Acho que o fato de a Suíça ser uma Confederação facilita mais a convivência do que na hipótese (de plausibilidade nula) de vir a ser uma monarquia…

Além do mais, a Suíça tem uma tradição de independência que a Bélgica não tem. Não foi ocupada durante as duas Guerras Mundiais, e se recusou a participar da União Européia.

Na Bélgica, o estado nacional fica, hoje, espremido entre, de um lado, as pressões regionais e locais, das duas principais regiões e dos diversos cantões, e, de outro lado, as pressões supranacionais da União Européia. Ao unir-se à União Européia, a Bélgica concordou em perder a coordenação de diversas áreas que antes pertenciam ao seu governo nacional, cedendo-as à estrutura supranacional – entre elas o seu câmbio, visto que passou a usar o Euro. E, na União Europeia, o controle central é exercido pela Alemanha e pela França, os dois países mais importantes, ambos tradicionais inimigos da Bélgica. (A Grã-Bretanha nunca foi membro integral da União  Européia, tendo se recusado, por exemplo, a substituir a tradicional Libra Esterlina pelo arrivista Euro – e, agora, com o plebiscito, batizado de Brexit, deve sair de vez da União).

Complicada a vida de nossos amigos europeus…

Em Bruxelas, 17 de Janeiro de 2017.