20161222: Detalhes da Primeira Perna da Viagem

No momento, são 18h25, hora do Brasil — 21h25, hora de Zürich / Bruxelles. Saímos de São Paulo com quase uma hora de atraso. Era para saírmos às 15h30, hora local, mas saímos cerca de 16h25. Aparentemente o tempo mudou em Guarulhos — a temperatura subiu três graus, os ventos ficaram mais fortes e mudaram de direção, exatamente quando estávamos na fila de take off. O piloto nos informou que, como o avião estava no limite do peso, foi determinado que ficássemos cerca de dez minutos na pista secundária, literalmente queimando querosene para o avião ficar mais leve. Depois dos 10 minutos — o take off já estava atrasado a essa altura — levantamos vôo e aqui estamos. Fiquei muito cismado com essa história de estarmos no limite do peso e fui verificar na revista de bordo as características do nosso avião, um Airbus A-340-300. O peso máximo do avião durante take off é de 275.000 kg. Com carga plena ele tem autonomia de vôo de 10.500 km, viajando, quando em cruzeiro, na velocidade máxima de 900 km/h. Espero que todo mundo, no avião e em terra, tenha feito seu serviço certinho…

Agora já tomamos drinks e jantamos. Todos os quatro optamos por carne de vaca com batata em cubos e espinafre. O tempero estava muito bom e a comida caiu muito bem no estômago.

Antes de embarcar, ficamos cerca de 90 minutos na Lounge da Star Alliance no Terminal 3 de Guarulhos. Muito boa, bebidas e comidas variadas e gostosas, ambientes de lazer e descanso confortáveis, etc.

Saímos de casa por volta de 10h40 da manhã, num pobre Uber que mal conseguiu armazenar quatro passageiros, quatro malas grandes, três malas pequenas e algumas mochilas, bolsas, etc. Levamos cerca de uma hora e meia até Guarulhos, andando devagar, porque o carro estava realmente pesado. Felizmente o trânsito estava razoável para a hora — embora o motorista tenha observado que São Paulo já (como se fosse) mudou seus relógios umas duras horas para frente. A população já está em férias. Os engarrafamentos que aconteciam às 7 agora acontecem às 9h, os das 9 acontecem às 11h, etc. Mas chegamos lá direitinho. O checkin já estava aberto, fomos atendidos muito bem pelo pessoal da Swiss, passamos pela Polícia Federal e pela Imigração (seria Emigração?) e fomos para a Lounge da Star Alliance.

A Paloma e as meninas parecem estar muito felizes. Eu sempre acabo sendo o mais chato do grupo, pelo menos até estarmos devidamente processados pela Polícia Federal e pela Imigração. Sou estressado por natureza em viagens. Tenho medo de que algum imprevisto aconteça e a gente perca o voo, coisas assim. Acabo, mineiramente, chegando ao aeroporto bem antes da hora necessária. Mas, cumpridas as exigências legais, fico mais relaxed e de bom humor, com estou agora.

O avião é decente, digamos assim. Paguei um “pedágio” por assento da ordem de 35 dólares por passageiro para termos um assento mais largo e espaçoso no início da chamada classe Econômica (aquele segmento de assentos que a United denomina de Economy Plus). Mesmo assim, os assentos são bem apertados. Imagino como estão os passageiros que não se dispuseram a desembolsar R$ 95,00 por assento por uns poucos centímetros adicionais de espaço…

Já fomos informados que o aeroporto de Zürich esta devidamente informado do atraso do nosso voo e tentando acertar as conexões dos passageiros. Tínhamos apenas cerca de 70 minutos de conexão lá, de modo que, provavelmente, já perdemos o vôo originalmente reservado para Bruxelles. Mas agora não me estresso. Viemos para Zürich pela Swiss e iremos para Bruxelles pela Swiss, de modo que a responsabilidade de nos entregarem em Bruxelles com as nossas malas é deles — e suíço não é gente de tirar o corpo fora de suas responsabilidades.

Apesar de ser quase 19h, no horário do Brasil, já são quase 22h em Zürich. Para nós não é hora de dormir (ontem, por exemplo, quer dizer, hoje, fui dormir depois das 4 da manhã em São Paulo… Fiquei mexendo neste meu blog “Diário de Bordo”, o tempo passou e o sono foi embora. Hoje cedo acordei-me por volta das 7h30 — morrendo de sono. Mas tomei um banho e o sono novamente foi embora.

Vou tentar ver pela enésima vez o filme The Way We Were, com Barbara Streisand e Robert Redford. O filme retrata os tempos em que cheguei aos Estados Unidos (1967-1968) e recebi o meu choque da América… [Na verdade, o filme retrata um segmento temporal mais longo… Mas como foi feito, e eu o vi pela primeira vez, em 1967-1968, foi esse recorte de tempo que ficou na minha memória.]

Se não escrever mais, posto este artiguinho mixuruco quando já estiver em Bruxelles, Deo volente — Deus assim querendo, como dizem os cristãos de fato e mesmo os que só absorvem uma tintura superficial da cultura cristã.

o O o

Volto para escrever mais um pouco. São 21h30, horário do Brasil, e, no horário de Zürich / Bruxelles, já é 0h30 do dia 23 de Dezembro, sexta-feira, antevéspera do Natal.

Estive pensando na questão do dia do Natal uns tempos atrás, quando escrevi o livrinho sobre a História do Cristianismo Primitivo. Não refleti sobre o Natal de uma forma inspiracional. Fiquei intrigado com uma série de coisas incômodas que os críticos históricos e literários (os representantes da chamada “Alta Crítica” – alta, porque a chamada “Baixa Crítica” é a crítica textual, a tentativa de encontrar o texto mais confiável dos diversos livros que hoje compõem a Bíblia dos cristãos.

A tradição cristã divide o tempo e a história em “Antes de Cristo” (aC) e “Depois de Cristo” (dC). Dentro dessa visão razoavelmente ingênua, estaremos comemorando, daqui a dois dias, o aniversário de número 2016 do nascimento de Jesus Cristo. Essa visão é razoavelmente ingênua por várias razões:

a) Se a tradição está correta, Jesus teria nascido no dia 1 do mês 1 do ano 0 (01/01/00) do calendário cristão. Um ano depois, em 01/01/01, teria completado um ano. O problema é que não houve um ano zero no calendário cristão. Houve o ano 1 aC e, em seguida, o ano 1 dC. Neste caso, Jesus teria completado um ano de idade no dia 01/01/02. Fica meio complicado.

b) A tradição colocou o dia do nascimento de Jesus, o Dia do Natal, no dia 25 de dezembro, que é o último mês de um ano — mas de que ano? Do ano 1 dC ou seria do ano 1 aC? Neste caso, Jesus teria nascido uma semana antes do primeiro dia a era cristã? Também é meio complicado — embora fique mais razoável dizer que no dia 25/12/01 Jesus completou um ano de idade.

c) A coisa fica mais complicada ainda quando se descobre que, segundo tudo indica, Jesus nasceu, realmente, em algum momento entre o ano 6 aC e o ano 4 aC. A Bíblia afirma que Jesus nasceu na época em que Herodes era Rei da Judeia. Acontece que há informação externa ao Novo Testamento que deixa razoavelmente comprovado que Herodes morreu no ano 4 aC, provavelmente no mês de março, provavelmente no dia 14. Ora, se Herodes morreu em 14/03/04 aC, Jesus deve ter nascido antes disso — quem sabe uns dois anos antes — para dar tempo de acontecer tudo aquilo que a Bíblia diz acerca de Jesus e sua família: a conversa dos Magos com Herodes, a fuga de José, Maria e Jesus para o Egito, etc. É por isso que se afirma — e até a insuspeita Bíblia de Estudos de Genebra o declara — que Jesus nasceu em algum momento entre o ano 6 aC e o ano 4 aC.

d) Há mais complicação… Dezembro é início do Inverno, no Hemisfério Norte, onde fica a Palestina. Se Jesus nasceu em um dia em que havia pastores no campo cuidando de suas ovelhas, aos quais apareceram anjos e um coral celestial dando as boas novas, com quase toda certeza não era no Inverno, época em que os pastores não levam suas ovelhas a pastar por não haver pasto e por ser muito frio. Logo, dificilmente Jesus nasceu em dezembro, segundo os estudiosos que adotam essa linha de investigação.

e) Por fim, mais uma complicação. Segundo outros investigadores, Jesus, além de não ter nascido no marco zero da era cristã e além de não ter nascido em dezembro, provavelmente também não nasceu em Belém da Judeia, mas, sim, me Nazaré mesmo. Há uma tradição firme dentro da igreja cristã e mesmo do Novo Testamento que identifica Jesus com Nazaré, e não com Belém. Ele é, afinal de contas, o Nazareno. A inscrição que teria sido posta em cima da cruz de Jesus afirma que seu nome era “Jesus Nazareno”. Além do mais, apenas um evangelho fala da ida a Belém para o nascimento de Jesus. E não há registro, fora de aquele lugarzinho no Novo Testamento, que comprove ter havido um censo — em especial um censo em que todo mundo tinha de ir ao lugar onde nasceu para se cadastrar.

Enfim, fazer o quê? Deixar as questões técnicas para os estudiosos e continuar desejando Feliz Natal, distribuindo presentes, comendo panetone, tomando egg nog, matando peru (especialmente no Hemisfério Norte), celebrando assim o nascimento do Nazareno?

Isso tudo para não mencionar outras tradições que foram se agregando à celebração: a árvore de Natal, o Papai Noel (São Nicolau?), a lenda de que os presentes distribuídos são entregues pelo bom velhinho, que, dia antes, arruma seu trenó, arreia suas renas, e sai da Laplândia, lá no Polo Norte (Círculo Polar Ártico) para vir voando, entrar pela chaminé da lareira, e deixar os presentes nos sapatos ou nas meias que ali estiverem aguardando… E a Missa do Galo?  E o Show do Roberto Carlos? De onde vieram todas essas tradições?

Voltando ao voo… Creio que nunca viajei dos Brasil para a Europa com tanta turbulência. O avião sacode tanto, e de forma quase ininterrupta, que eles até apagaram a luz que determina que a gente deve ficar amarrado no assento, porque tanta gente estava simplesmente se levantando para ir ao banheiro ou simplesmente se esticar um pouco, mesmo com a luz acesa, desmoralizando o pobre sinalzinho… Pela primeira vez, desde 1946, quando eu ia fazer três anos, e viajei de Londrina para São Paulo na Aerovias Natal, e vomitei as tripas, estou sentindo o estômago meio enjoado. Acho que é de escrever numa tela que não para quieta. Só porque eu escrevi, acenderam a luzinha que indica para ficarmos nos assentos com o cinto de segurança afivelado.

Até depois. Vou ver se cochilo mais um pouco. Pelo jeito o software que oferece as atrações na telinha desistiu. Pelo menos a minha tela está congeladíssima.

No Ar, 22 de Dezembro de 2016 (já tendo entrado em 23 de Dezembro de 2016 no Hemisfério Norte, onde certamente já estou…)

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